sexta-feira, novembro 09, 2007

"Estórias Reais Imaginadas"

A MULHER QUE QUERIA ENCONTRAR DINHEIRO NO CHÃO


A Teresa nunca encontrou dinheiro no chão. Dinheiro. Notas ou moedas. Nem no chão de Lisboa, onde vive há tempo suficiente para que já tivesse acontecido, nem nas praias do Algarve onde passa férias desde sempre. Nem sequer no chão das cidades estrangeiras que visitou. Não com esse propósito, note-se. O de encontrar dinheiro no chão. Mas nem aí.
Ela sabe bem que é ridículo ter este desejo. Como é ridículo inventar o Pai Natal às criancinhas. Fazer castelos de areia. Fumar com boquilha. Ter três telemóveis. Evitar o contacto visual com quem anda nos transportes públicos.
Todas elas coisas ridículas. Mas que acontecem, mesmo assim.
Desde aquela vez no liceu em que a Sandra “Gorda” encontrou uma nota de 100 escudos (daquelas azuis, com o Bocage) ao pé do pavilhão C que ela ouve estórias destas. Pessoas que encontram dinheiro no chão. Se calhar dela. Não sabe nem lhe interessa.
Não é a ganância o que a move. Não quer nem vai ficar rica com o que encontrar.
Em suma, não é o “dinheiro” que lhe interessa, mas sim o princípio. A ideia. O que isso significaria. Porque não a ela, se já aconteceu a tanta gente?
Muitos devem a experiência precisamente a Teresa. Como nunca lhe aconteceu ela faz com que aconteça aos outros, deixando moedas e, ocasionalmente, notas em locais estratégicos e de elevada visibilidade. Depois fica a observar as reacções das pessoas. Uns apanham e guardam o dinheiro “à descarada”, outros apanham e guardam discretamente, olhando em volta. Para uns será a continuação das coisas boas que lhes acontecem na vida, para outros será um oásis de sorte na maré de azar que atravessam. Mais ou menos efusivos, todos sorriem.
O Sr. Aurélio da mercearia, por exemplo, encontrou aquela de 10 euros. Ficou feliz.
Aos que dizem que “o dinheiro não traz felicidade”, Teresa responderia que a ela traz, se o encontrar por acaso.
Teresa, 29 anos, bonita, curso de Sociologia tirado, emprego chato de bibliotecária, tem como “hobby” perscrutar o chão em busca de uma nota. Ou moeda.
Porque não?





JR

7 Comments:

At 8:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Sou suspeito por estar a comentar mas esta "estoria" esta brutal!! :) Grd abraço

GG

 
At 8:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

De chorar por maís. Sexta-feira cá espero por novas peripécias

 
At 10:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu encontrei mini-notas na Polonia.

 
At 2:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

agora sim uma "estoria" em condições!! Gostei bastante.. até eu ando a olhar para o chão... Bem, ficarei a aguardar ansiosamente a próxima "estória" neste cantinho das sextas-feiras...beijos

 
At 4:26 da manhã, Anonymous Anónimo said...

mas o pulha do neves o quê!?

 
At 11:35 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Grande texto, adorei!!!


Abraço, xeltox TC

 
At 1:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

muitissimo bom.

J.G

 

Enviar um comentário

<< Home